Toda startup que vai captar investimento quer entender qual melhor tipo de contrato de investimento para a rodada; e o mais utilizado, realmente, é o mútuo conversível. Mas, afinal, o que é significa este tipo de contrato? Ele é o ideal?
Os desenvolvedores não estavam nada satisfeitos por terem investido tanto tempo aprendendo sobre a plataforma e desenvolvendo nela e agora viam seu trabalho ser jogado no lixo. Além de muitos discordarem da decisão, por simplesmente considerarem o sistema muito bom. Jobs lamenta, diz que entende a dor deles, mas explica que isso faz parte do processo. A empresa deve investir em produtos que os usuários querem usar. Não importa se os técnicos o reputam como muito bons; o que importa é como o mercado o avalia.
Outro desenvolvedor faz uma pergunta, até de forma agressiva, pedindo para Jobs explicar como a nova tecnologia adotada (Java) aproveita as partes mais valiosas do Open Doc. Jobs então dá mais uma de suas lições de estratégia.
Ele reconhece que a tecnologia recém descartada tem atributos notáveis. Mas explica que isso não é suficiente, se não estiver inserida numa visão estratégica coesa e de longo prazo. Conta que, por muitas vezes ele, mais do que qualquer outro, tentou desenvolver produtos a partir das tecnologias que a empresa dominava, e que considerava espetaculares. E aprendeu que isso não funciona.
Não é simplesmente por que a tecnologia é boa que o produto será bom. Jobs explica que não há outro caminho que não seja começar pela “experiência do usuário”, por um problema real, e aí buscar a melhor tecnologia para desenvolver um bom produto.
E isso me lembra muito o estágio atual da tecnologia Blockchain. Não há dúvidas de que a tecnologia é uma das mais disruptivas que a humanidade já viu. Ela tem o potencial de criar uma nova era da Internet: a internet dos valores. Ela tem o potencial de desintermediar cadeias inteiras de valor; de eliminar players importantes em diversas indústrias.
Ela tem o potencial de substituir organizações que estão no mercado com o propósito de dar credibilidade a uma informação, como cartórios, câmaras de compensação e liquidação de ativos, entidades certificadoras e tantas outras. Ela tem o potencial de operar inúmeras transações financeiras de forma automática e descentralizada, sem a figura de uma instituição central ou intermediária. Isto significa ser possível criar, no limite, todo um sistema financeiro sem bancos, corretoras, bancos centrais, bolsas de valores e etc.
Porém, não adianta partir da tecnologia para se tentar encontrar produtos que o mercado adote. O caminho deve ser o inverso, partindo-se do problema, do usuário, da sua dor, ou do buraco, como dizia Steve Jobs. Se não for desta forma, haverá gaps que impedirão o produto de ser bem sucedido. A credibilidade, por exemplo, é um fator crítico no mercado financeiro. Uma coisa é o usuário confiar numa instituição financeira, regulada, com uma marca reconhecida, com um balanço sólido, num mercado em que há um regulador atuante. Outra coisa é esse mesmo consumidor confiar que uma tecnologia (ou um sistema) é capaz de operar tudo isso de forma automática e autônoma. E confiar seu dinheiro a essa tecnologia.
Enquanto as organizações, em especial, empresas de tecnologia e startups, não entenderem isso, Blockchain vai continuar sendo uma tecnologia com enorme potencial, porém reduzido ao clássico caso da “solução em busca de um problema”.